Em Elisa – O Véu da Culpa, Leonardo Di Costanzo mergulha nas zonas mais turvas da mente humana, aquele lugar onde culpa e negação se confundem com sobrevivência. Inspirado em uma história real, o filme é uma coprodução entre Itália e Suíça e acompanha Elisa, uma mulher de 35 anos, presa há mais de uma década por um crime brutal: matar e queimar o corpo da própria irmã. Ela diz não se lembrar de nada. E talvez essa seja a única verdade possível.
O diretor constrói um drama psicológico que caminha lentamente, às vezes até demais, mas com propósito. Nada é gratuito. O silêncio aqui fala tanto quanto a fala, e o olhar de Elisa carrega mais perguntas do que respostas. Ao aceitar participar da pesquisa do renomado criminologista Alaoui, especialista em crimes familiares, ela se vê obrigada a revisitar o que mais teme: a própria memória.
Aos poucos, fragmentos do passado emergem. Uma infância marcada por rejeição; uma mãe que dizia não tê-la querido, um ambiente aparentemente estruturado, mas emocionalmente devastado. Elisa cresceu sem afeto, reprimindo o que sentia até que a raiva se confundiu com medo. E quando o medo transbordou, o crime aconteceu. Ela apenas não consegue encarar o reflexo do que foi capaz de fazer.
O filme propõe uma reflexão desconfortável: o que é, afinal, a culpa? Um fardo moral, um instinto de autoproteção, ou apenas o nome que damos àquilo que não sabemos como processar? Costanzo articula tudo isso através das sessões com Alaoui, que enxerga no criminoso não o monstro, mas o humano imperfeito, falho e ainda assim capaz de redenção.
Há um contraste forte entre os dois exemplos de perdão apresentados: o pai que visita a filha duas vezes por semana no centro penitenciário, e a mãe de outro caso, que perdeu o filho assassinado e permanece prisioneira da própria dor. Um perdoa o imperdoável; o outro não consegue sobreviver ao ódio. Entre eles, o espectador é colocado diante do espelho, e o filme pergunta: você perdoaria um criminoso?
A fotografia fria, quase clínica, reforça essa distância entre o que é lembrado e o que é reprimido. Elisa – O Véu da Culpa é um filme sobre memória e negação, mas também sobre humanidade, sobre o que resta quando o castigo já foi cumprido, mas o perdão ainda não chegou.
Costanzo entende que olhar para o passado é o verdadeiro cárcere. E talvez o perdão, dos outros e de si mesma, seja o único caminho possível para sair de lá.
Você encontra Elisa- O Veu da Culpa no Festival do Rio .
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