O suspense de estreia do roteirista e diretor Diego Freitas em longas-metragens nos convida a observar o protagonista para montar o quebra-cabeça de uma mente fragmentada. O filme que ganhou prêmio no Festival de Montreal trás uma perspectiva cinematográfica bastante diferente, possuindo uma estética que apesar de sombria é maravilhosa de se ver.

Nicolas Prattes em uma atuação memorável se funde em Davi, um Serial Killer que tem como hobby filmar outras pessoas sem que elas o vejam. Na convivência acadêmica com Jonatas, mestrando, por quem desenvolve um certo fascínio ele acaba tendo um insight de libertação que implica na morte de outras pessoas, sendo a primeira delas uma vizinha idosa. Davi filma o ato sem revelar a sua identidade e fica famoso por publicar este e os outros crimes na internet.
Davi sem dúvidas é um personagem de muitas camadas e certamente foi interpretado com bastante dedicação, visto que foi o primeiro filme de Prattes. O ator que não reside em São Paulo, local de filmagem, precisou se deslocar e viver por um tempo no hotel da cidade, tornando mais viável a sua vivência e aprofundamento no protagonista stanislavskiano. O seu ensaio diário começou na pré produção onde foi repassada cena por cena com a sensibilidade de Freitas, resultando em um personagem que fala com o olhar e possui uma real cara de psicopata.

Com uma aposta no ousado e diversificado há momentos destoantes marcados pela luz em que a fotografia exalta a beleza das paisagens e insere elementos destrutivos . Neste suspense com altas doses de drama psicológico, Diego Freitas tem uma bela estreia ao contar a vida de um assassino com uma mente tão fragmentada.
Há uma licença poética mesclada a uma fotografia contemplativa repleta de simbolismos. Símbolos religiosos, com presença de uma pomba, Maria (interpretada por Neusa Maria Faro), Davi, Jonatas (André Hendges), Eden que é o local aonde Davi quer levar Jonatas e a Praça de Deus. Existem símbolos referentes a Guillermo del Toro como a luz estética, Darren Aronofsky com uma direção de arte agressiva, Alfred Hitchcock e Stanley Kubrick em suas narrativas e criação de personagens tangíveis.

Ao longo da trama observamos que a história é de um menino que comete crimes bárbaros em busca de amor, partindo de uma carência ele procura um sentimento familiar amoroso que nunca teve. O telespectador acompanha a trama pelo ponto de vista de Davi, vemos o que ele vê nos fazendo simpatizar com suas camadas encontradas.
O roteiro que possui uma versão escrita em apenas duas semanas como encomenda de uma distribuidora possui símbolos da vida do diretor, como o de sair de casa cedo junto a um realismo fantástico e muitas metáforas. O Segredo de Davi é um terror com drama e suspense focado na mente do protagonista, que se arrisca no incomum e faz um ótimo proveito de uma premissa aparentemente simples.
Você encontra O Segredo de Davi no GloboPlay com duração de 114 Minutos.
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