Retrato de um Certo Oriente é uma adaptação do premiado romance Relato de um Certo Oriente de Milton Hatoum. A trama inicia-se em 1949, quando os irmãos libaneses católicos Emilie e Emir abandonam um Líbano em iminência de guerra, embarcando em direção ao desconhecido Brasil. Durante a travessia, Emilie se apaixona pelo comerciante muçulmano Omar, despertando o ciúme incontrolável de Emir, que culpa os muçulmanos pela morte trágica de seus pais. A viagem torna-se ainda mais dramática quando uma briga entre Emir e Omar resulta em um tiro acidental que fere gravemente Emir. Emilie, desesperada, busca ajuda em uma aldeia indígena na selva amazônica para salvar a vida de seu irmão. Recuperado, eles continuam para Manaus, onde as escolhas de Emilie levam a consequências trágicas.
Filmado em um impressionante preto e branco, a cinematografia de Pierre de Kerchove é uma das maiores forças do filme. Cada cena é cuidadosamente elaborada. Os planos fechados trazem uma intimidade poderosa, permitindo que o público se conecte profundamente com as emoções dos personagens. Em diversos momentos, a fotografia remete às obras de Sebastião Salgado, transportando o espectador para um “quadro amazônico” de rara beleza.
Marcelo Gomes, cuja filmografia inclui obras como Cinema, Aspirinas e Urubus e Viajo porque preciso, Volto porque te amo, demonstra novamente sua habilidade em traduzir histórias complexas e humanas para o cinema. A adaptação de “Relato de um Certo Oriente” é tratada com delicada sensibilidade, balanceando a fidelidade ao texto literário com uma abordagem cinematográfica inventiva. Gomes consegue transformar as memórias e fluxos de consciência do romance em uma narrativa visualmente rica e emocionalmente carregada.
A trilha sonora sutil e evocativa complementa perfeitamente a estética do filme, onde muitas vezes o som é de uma natureza presente. Em vez de dominar a narrativa, a música trabalha em harmoniosa sinergia com a cinematografia, sublinhando momentos de tensão e introspecção sem jamais distrair o público da história central.
Além da fotografia, as performances são outro pilar de Retrato de um Certo Oriente. Wafa’a Celine Halawi oferece uma Emilie multifacetada e profunda, enquanto Zakaria Kaakour e Charbel Kamel trazem intensidade e autenticidade aos seus papéis. A participação de Rosa Peixoto e sua família, emprestando rituais e costumes indígenas, adiciona um valioso contraste cultural à trama. A narrativa aborda questões de memória, tradição e identidade de maneira que ressoa profundamente.
Retrato de um Certo Oriente é um estudo íntimo sobre memória, paixão e preconceito, imergido no contexto da imigração libanesa na Amazônia brasileira. A obra é uma homenagem calorosa à complexidade emocional e cultural do romance de Milton Hatoum, traduzida para a tela com sublime maestria por Marcelo Gomes.
Marcelo Gomes entrega um épico íntimo que permanece fiel ao espírito do romance original, ao mesmo tempo em que cria algo profundamente novo e admirável.
Você encontra Retrato de Um Certo Oriente a partir do dia 21 de Novembro nos Cinemas.
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