Betânia, dirigido e roteirizado por Marcello Botta, é um filme brasileiro que fez sua estreia mundial na mostra Panorama do Festival de Berlim 2024 e recentemente impressionou o público no Festival do Rio. Este longa explora a vida de Betânia, uma viúva de 65 anos, que retorna à sua aldeia natal nos Lençóis Maranhenses após a morte do marido. O filme é um mergulho cultural e sensorial que mistura tradição e modernidade, introspecção e choque cultural.
A narrativa segue Betânia, que, após a morte do marido, é convencida pelas filhas a voltar para sua aldeia. Lá, enfrenta os desafios de uma vida simples em contraste com as novas tecnologias e a modernidade que chegam à região. O filme retrata a transição e adaptação de Betânia a essa nova realidade, enquanto ela redescobre suas raízes e lida com as mudanças impostas pelo progresso.
Marcello Botta, em sua estreia, demonstra um domínio impressionante da estética e da narrativa visual. A montagem de Botta, somada a um trabalho de fotografia memorável, transmite uma autenticidade profunda. As cenas são cuidadosamente iluminadas pelo sol do dia e pelo fogo à noite, refletindo a beleza e a crueza dos Lençóis Maranhenses. O uso de elementos como o folclore do Bumba Meu Boi adiciona camadas de riqueza cultural e espiritualidade à trama.
Diana Mattos oferece uma performance comovente e autêntica como Betânia, refletindo a resiliência e a vulnerabilidade da personagem. O núcleo do absurdo no filme é trazido à vida por Anouk Mulard como Sofie e Tim Vidal como Bernard, franceses que viajam para o Maranhão. Suas cenas são as mais ficcionais e coreografadas do filme, proporcionando um contraste interessante com o restante da narrativa e provocando fortes reações do público.
Betânia explora temas de luto, identidade, e adaptação, enquanto faz uma crítica sutil à modernidade e ao progresso. A inclusão de elementos modernos, como a internet e os smartphones, contrasta fortemente com a vida tradicional da aldeia, onde coisas simples como deixar a geladeira ligada 24 horas não existia, assim como tomar banho de chuveiro. A presença de lixo trazido pelas marés do Atlântico, um fenômeno emergente nas praias do Nordeste, serve como um símbolo poderoso das invasões indesejadas da modernidade.
A abordagem de Marcello Botta à cinematografia é particularmente inspiradora. A trilha sonora é igualmente notável, com canções populares adaptadas em estilos como brega, reggae e cânticos. Este uso criativo da música acentua o choque cultural e a narrativa da adaptação.
Betânia é uma obra que celebra a cultura e a resiliência do povo brasileiro, enquanto critica sutilmente as imposições da modernidade. A narrativa é uma reflexão sobre a mudança e a adaptação, questionando o endeusamento da vida urbana e explorando o que realmente buscamos em nossas vidas.
Ainda que por vezes apresente um excesso de informação e lutas sociais, Betânia permanece como um documento cultural essencial e um testemunho da capacidade humana de encontrar felicidade e pertencimento em qualquer lugar. Este filme é mais do que um filme; é um resgate da memória e das tradições.
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