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O Último Pub: Um Último Brinde ao Realismo Social de Ken Loach

Ken Loach, um dos grandes mestres do realismo social britânico, oferece com O Último Pub uma narrativa que une o estilo inconfundível do cineasta com temas profundamente relevantes. Contudo, a abordagem, desta vez, é um tanto didática e previsível, o que dilui parte do impacto emocional que Loach busca alcançar.

Ambientado em um vilarejo decadente no nordeste da Inglaterra, o filme segue TJ Ballantyne (Dave Turner), o proprietário de um pub que é o último refúgio de uma comunidade devastada pelo fechamento das minas de carvão. A chegada de refugiados sírios, incluindo a jovem Yara (Ebla Mari), agita a rotina do local e expõe os preconceitos e tensões latentes na população.

O roteiro de Paul Laverty, colaborador frequente de Loach, não se esquiva do humor ácido, mas é predominantemente sério e ponderado. Laverty passa suas mensagens de forma clara e direta, quase didática, fazendo com que os temas do filme sejam transmitidos sem intermediários. Isso, no entanto, acaba por criar uma sensação de que estamos sendo conduzidos por uma narrativa com um propósito predefinido, deixando pouco espaço para a sutileza.

Dave Turner traz uma performance ancorada e melancólica a TJ, transmitindo a essência de um homem dividido entre seu compromisso com os habituais clientes do pub, muitos com visões xenofóbicas, e seu desejo de ajudar os refugiados. Ebla Mari, por outro lado, embute em Yara uma força tranquila e uma determinação, apesar de algumas falas excessivamente expositivas.

O filme não se esquiva das suas intenções. Quando TJ fala sobre a injustiça e como frequentemente culpamos quem está abaixo de nós na hierarquia social, ou quando Yara explica seu exílio de forma didática.

Os coadjuvantes, como Charlie (Trevor Fox), o preconceituoso local, e Tania (Debbie Honeywood), a idealista da vila, ajudam a povoar o cenário com figuras credíveis, que refletem o realismo naturalista que Loach sempre perseguiu. Essa forte atuação do elenco, juntamente com a fotografia naturalista de Robbie Ryan, que capta de forma visceral a dureza da vida no vilarejo, contrapõem-se à simplicidade do roteiro.

“É preciso força para fazer algo bonito.”

A estrutura do filme, porém, tende a seguir caminhos previsíveis, com mortes e interações supostamente projetadas para arrancar lágrimas. Esses mecanismos narrativos, embora efetivos para provocar reações emocionais, não se sentem genuínos, dando ao público a sensação de que suas emoções estão sendo manipuladas.

O Último Pub é, sem dúvida, uma obra carregada de boas intenções e mensagens importantes, especialmente em um contexto global onde os fluxos migratórios e os preconceitos viram pautas constantes. Ainda assim, a pregação explícita e a falta de nuances na narrativa podem afastar parte da audiência que busca uma conexão emocional mais autêntica e uma experiência cinematográfica menos direcionada.

“Isso não é caridade, é solidariedade.”

Ken Loach, em seu suposto último filme, oferece um brinde ao seu legado de realismo social, mas talvez um brinde que deixa um gosto um tanto agridoce na boca. O Último Pub nos lembra do poder das pequenas gentilezas e da solidariedade em tempos de crise, mas o faz de uma maneira que, por vezes, sacrifica a autenticidade em favor do didatismo.

Você encontra O Último Pub no Now.

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