Antonio Pitanga, ícone do Cinema Novo, retorna em grande estilo com Malês, um filme profundamente comovente e historicamente importante que aborda a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, Bahia, em 1835. Este momento crucial da história afro-brasileira é capturado com sensibilidade e vigor, resultando em uma obra cinematográfica que é ao mesmo tempo educativa e emocionalmente impactante.
A trama segue dois jovens muçulmanos africanos que são arrancados de sua terra natal e levados como escravos para o Brasil. Durante esta dolorosa jornada, uma história de resiliência e busca incessante pela liberdade se desenrola. Sequestrados do seio de suas famílias e comunidades, eles são separados e forçados a lutar, tanto física quanto emocionalmente, para sobreviver e se reencontrar. Nesse percurso, acabam se envolvendo na maior insurreição de escravizados da história do Brasil, protagonizada por 600 escravizados muçulmanos. Esta rebelião, embora sufocada em menos de 48 horas com a repressão violenta e assassinato de seus líderes, deixou uma marca indelével na história.
“Se o mundo quer fazer meu filho de escravo, eu quero mudar o mundo.”
Durante a pré-estreia, que integrou a 26ª edição do Festival do Rio e ocorreu em uma sessão especial no Cine Odeon, nomes de peso como Lázaro Ramos, Benedita da Silva e Maju Coutinho compareceram para prestigiar o filme. Antonio Pitanga, com seus filhos Camila e Rocco Pitanga, marcou presença, destacando a importância pessoal e histórica do projeto.
Pitanga, interpretando Pacífico Licutan, um dos líderes malês, demonstra uma atuação carismática e cheia de nuances. Seu personagem enfatiza a importância da união entre diferentes povos, tribos e religiões para o sucesso da revolta e o fim da escravidão. A produção também retrata outras importantes lideranças, como Ahuna (Rodrigo de Odé), Manuel Calafate (Bukassa Kabengele), Vitório Sule (Heraldo de Deus) e Luís Sanim (Thiago Justino), oferecendo ao público um retrato detalhado e multifacetado dos líderes dessa insurreição histórica.
” O tempo se alarga para caber todas as histórias.”
Sob a direção de Pitanga, o filme consegue balancear intimidade e grandiosidade, capturando os detalhes da vida cotidiana dos escravizados enquanto mostra a magnitude de sua coragem e sacrifício. A fotografia, que utiliza locações autênticas em Cachoeira, Salvador e Maricá, é visualmente deslumbrante e carrega um peso histórico que transporta o espectador diretamente para a Bahia do século XIX.
O roteiro de Manuela Dias é outro ponto alto, buscando não apenas narrar a Revolta dos Malês, mas também explorar a profundidade da luta contra o racismo e a intolerância religiosa por meio de fortes diálogos. Manuela constrói uma narrativa rica e de múltiplas camadas, que convida o espectador a refletir sobre questões ainda pertinentes na sociedade contemporânea.
A trilha sonora, com tambores fortemente presentes, complementa a narrativa ao evocar a espiritualidade e a resistência dos personagens. A direção de arte e o figurino também merecem destaque, proporcionando uma imersão completa no contexto histórico do filme.
“Não é ajudar, é participar.”
Malês não é apenas um filme sobre o passado; é uma obra que ressoa fortemente no presente. Antonio Pitanga, aos 85 anos, entrega uma direção apaixonada e uma interpretação poderosa, apoiado por um elenco talentoso e uma equipe dedicada. O filme é, acima de tudo, um tributo à resiliência e à coragem daqueles que lutaram e continuam a lutar contra a opressão.
Com uma estreia programada para 14 de novembro, Malês não só reconta uma história essencial da cultura afro-brasileira, mas também promove uma reflexão profunda sobre as desigualdades atuais.
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Até o próximo texto.