Ontem assisti In-I in Motion no Festival do Rio. Dirigido e estrelado por Juliette Binoche, o filme parte de um gesto de coragem: o de se colocar vulnerável diante da arte e da própria limitação.
Em 2007, Binoche decidiu se afastar do cinema para criar um espetáculo de dança com o coreógrafo Akram Khan. O acordo entre os dois era simples e simbólico; ela o ajudaria a se tornar um ator melhor, e ele a ensinaria a dançar. Dessa troca nasceu o espetáculo In-I, e agora o filme, que mistura bastidores, ensaios e performance em um só movimento.
É curioso observar uma atriz do tamanho de Binoche se despindo da segurança da atuação para explorar um novo corpo. O documentário registra o processo cru: ensaios longos, tropeços, cansaço, frustrações e momentos de descoberta. Há algo de profundamente humano em vê-la aprender a respirar de outro jeito, cair e levantar, buscar o ritmo com o corpo inteiro. A dança que nasce do erro é, talvez, a mais verdadeira.
Em muitos momentos, In-I in Motion se torna um espelho da relação entre Binoche e Khan, dois artistas tentando acessar o que há de mais autêntico no outro. Entre o atrito e a parceria, o filme encontra sua pulsação. É arte lapidando arte.
Durante o festival, Binoche comentou que não gostou completamente do resultado final e que o espetáculo completo ao fim foi uma decisão da distribuidora. Ela trabalha em um novo corte, trinta minutos mais curto. E faz sentido: há um respiro que o filme ainda busca, uma leveza que cabe melhor em sua proposta.
Mas o que mais me tocou foi o que ela disse após a sessão: que todos temos um artista dentro de nós, e que o desafio é vencer o medo de acessá-lo. Em In-I in Motion, ela faz exatamente isso, enfrenta o medo com o corpo, sem máscaras, sem controle, sem se esconder.
Como espectadora, admirei a coragem. Como artista, senti vontade de me mover também, de errar mais, tentar mais, existir mais. In-I in Motion não é apenas um filme sobre dança; é sobre libertar o corpo da exigência de perfeição.
No fim, o essencial permanece: o instante em que o medo se transforma em movimento.
Você encontra In i In Motion no Festival do Rio.
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