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BELA LX-404 – Um Tributo Tocante e Inovador a Léa Garcia

No último sábado, dia 6 de outubro, o Festival do Rio se iluminou com a estreia de “BELA LX-404,” o aguardado curta-metragem roteirizado e dirigido por Luiza Botelho. Mesmo que a exibição não estivesse na competição oficial, o filme brilhou como uma das atrações mais emocionantes do evento, servindo também como uma homenagem à lendária atriz Léa Garcia, cuja perda recente deixa uma ausência imensurável no cinema brasileiro.

Léa Garcia, aos 89 anos, deu vida a Bela LX-404, uma robô sensual adquirida por um senhor solitário, Seu William (Thiago Justino). A escolha de Léa para este papel – um robô com toques de sensualidade – não só desafia as expectativas de William, mas também do público. Em uma atuação que mescla humor, humanidade e uma pitada de ironia, Léa cativa do início ao fim. A própria atriz confessou se divertir extremamente com o papel, o que transparece em cada cena, tornando sua atuação ainda mais cativante.

A trama, que começa de maneira quase cômica com a surpresa de William ao receber uma robô com mais idade que a jovem atraente que esperava, evolui para uma reflexão mais profunda sobre as relações humanas, solidão e aceitação. No enredo, Henrique Bulhões se destaca como o porteiro Zezinho, cuja interação com Bela e William adiciona camadas de complexidade e sensibilidade ao filme.

A direção de Luiza Botelho é um tributo apropriado a seu pai, e uma mostra promissora de seu próprio talento cinematográfico. A escolha do ano dos robôs e do estilo futurista é sustentada pelo trabalho de iluminação, que desempenha um papel fundamental em transportar o espectador para um futuro onde a tecnologia e as relações humanas se entrelaçam de maneira inesperada.

Os efeitos visuais, especialmente as telas tecnológicas futuristas, são dignos de nota e adicionam uma camada de autenticidade ao cenário futurista do filme. A pós-produção faz uma ponte perfeita entre os elementos humanos e tecnológicos da obra, sem nunca tirar o foco das performances emocionantes e do desenvolvimento de personagem.

BELA LX-404 é uma bela despedida para Léa Garcia, oferecendo uma última chance de apreciar o brilho e a versatilidade de uma atriz que deixou um legado inestimável. O curta-metragem combina humor, emoção e inovação, deixando o público não apenas entretido, mas também reflexivo sobre as complexidades das relações humanas em um mundo dominado pela tecnologia.

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Até o próximo texto.

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Emilia Perez

Destaque no Festival de Cannes, “Emília Pérez” é uma das apostas mais fortes da França para a próxima edição do Oscar, na categoria de Melhor Filme Internacional. O longa, que será lançado nos cinemas brasileiros apenas em 2025, conquistou premiações e aclamação da crítica. Recentemente, abriu a 26ª edição do Festival do Rio, com sessões esgotadas, refletindo o grande entusiasmo em torno da produção.

Dirigido por Jacques Audiard (conhecido por “Ferrugem e Osso” e “O Profeta”), o filme foi rodado no México e é majoritariamente falado em espanhol. Emília Pérez mescla elementos de drama mexicano policial e musical para contar a história entrelaçada entre dois indivíduos em busca de um futuro mais promissor: Manitas del Monte (vivido por Karla Sofía Gascón, atriz espanhola de “Rebelde”), um chefe de cartel de drogas que sonha em se tornar mulher, e Rita Moro Castro (interpretada por Zoë Saldaña, de “Avatar: O Caminho da Água” e “Crash”), uma advogada desprestigiada que vê na oferta de ajudar Manitas uma chance de transformar sua própria vida.

O pacto entre eles exige que Manitas abandone seu passado no tráfico, incluindo sua família. Para Rita, a responsabilidade de resolver os detalhes práticos do plano gera uma sensação de urgência, que se reflete na narrativa acelerada do filme. Logo, Manitas se torna Emília Pérez, uma transformação que não só muda a vida de Rita, mas também impacta as vidas de outras duas mulheres: Jessi (Selena Gomez, de “Only Murders in the Building” e “Os Feiticeiros de Waverly Place”), a viúva de Manitas, que se vê presa numa mentira ao tentar viver com Emília, e Epifanía (Adriana Paz, de “Vis a Vis”), que, na busca por redenção, inicia uma organização de ajuda às pessoas desaparecidas, uma vez que o México é um dos países em que mais há desaparecidos.

Emília Pérez explora as jornadas de autodescobrimento dessas mulheres: Emília enfrenta a realidade de finalmente viver seu sonho, Rita navega a complexidade de alcançar sucesso e descobrir seu vazio internalizado, Jessi tenta reencontrar a felicidade com outro homem (Edgar Ramírez), e Epifanía aprende a viver sem medo e a amar novamente.

A música é um elemento central do filme, inserido organicamente na narrativa para reforçar emoções e temas. Diferente dos musicais clássicos como Moulin Rouge, Mamma Mia, ou até Os Miseráveis, a trilha sonora de Emília Pérez provoca uma ampla gama de sentimentos, desde intimidação e impacto até o desconforto.

Vale ressaltar que a fotografia e a coreografia são pontos altos do filme, enriquecendo ainda mais a experiência. A direção de fotografia captura as nuances das paisagens mexicanas e os momentos mais íntimos das personagens, enquanto as coreografias adicionam uma camada extra de expressividade e dinamismo às cenas. Não é à toa que Karla Sofía Gascón foi laureada com o prêmio de Melhor Atriz em Cannes, uma vitória que sublinha a força e a profundidade das atuações que caracterizam o longa-metragem Emília Pérez.

Com sua abordagem inovadora e rica em nuances humanas, Emília Pérez promete não apenas ser um forte concorrente em festivais internacionais, mas também conquistar o coração do público ao explorar temas universais de identidade, transformação e redenção.

 

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Até o próximo texto.

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Federer: 12 Final Days

“Federer: Twelve Final Days” é uma emotiva despedida de um dos maiores ícones do esporte mundial, dirigido por Asif Kapadia e Joe Sabia. Este documentário não é apenas uma retrospectiva da carreira de Roger Federer, mas uma homenagem sincera e comovente ao homem por trás da raquete, cujas façanhas em quadra cativaram milhões ao redor do mundo.

Desde o momento chocante do anúncio de sua aposentadoria, o filme prende o espectador com uma avalanche de emoções. Acompanhamos de perto não apenas Federer, mas também sua família—sua esposa, filhos e pais—e até mesmo telefonemas de influentes figuras públicas e fãs. A coletiva de imprensa que abalou o mundo esportivo em 2022 é retratada com uma sensibilidade que destaca a magnitude do momento.

Ao longo do documentário, vemos Roger Federer refletir sobre sua jornada pessoal e profissional, revelando suas inseguranças após uma cirurgia no joelho—uma fase que nunca imaginou enfrentar. A habilidade de Kapadia e Sabia em capturar a vulnerabilidade de Federer adiciona uma camada profunda de humanidade à lenda do tênis. A luta para recuperar a confiança, as dificuldades nas partidas de longa duração e o impacto crescente de suas limitações físicas são mostrados sem filtros, permitindo que os espectadores compreendam a complexidade emocional de um atleta diante do fim de sua carreira competitiva.

O pano de fundo dos 12 dias que antecedem sua última partida na Laver Cup em Londres é ricamente ilustrado pela relação de Federer com outros gigantes do tênis, como Djokovik, Nadal e Murray. Essas interações, especialmente com seu herói de infância, Björn Borg, dão um toque de nobreza ao legado que Federer deixa. Mesmo em sua despedida, Federer promete não “sumir e virar um fantasma” como Borg, reafirmando seu compromisso contínuo com o tênis e seus fãs.

A montagem do filme é um dos pontos altos. Kapadia e Sabia alternam imagens dos jogos épicos de Federer, incluindo suas lendárias batalhas contra Rafael Nadal, com imagens caseiras de um jovem Federer treinando com fervor adolescente. Essa narrativa visual cria uma conexão íntima entre o passado e o presente, sublinhando a evolução do jogador e do homem.

“Federer: Twelve Final Days” não é apenas um documentário; é um tributo à paixão, resiliência e ao espírito indomável de um atleta que redefiniu o tênis moderno. É um lembrete poderoso do impacto duradouro que Roger Federer teve no esporte e na vida de tantas pessoas. A emoção que permeia cada frame não deixa dúvida: este filme é uma celebração à altura de uma lenda.

Você encontra Federer: Twelve Final Days na Amazon Prime video.

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Até o próximo texto.

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Uma Família Não Tão Feliz

Na próxima quinta-feira (4 de Abril) chega aos cinemas o filme “Uma Família Feliz”. Onde se revela um intrincado enredo centrado em Eva, uma jovem mãe confrontada com a devastadora realidade da depressão pós-parto em meio a uma comunidade que rapidamente se vira contra ela. Com o roteiro e argumento escritos por Raphael Montes e dirigido por José Eduardo Belmonte, o filme mergulha os espectadores em uma trama sombria acentuada por um trabalho meticuloso de iluminação. Com atuações impactantes de Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, a narrativa desvenda as tensões familiares e os segredos ocultos que ameaçam a aparente harmonia da vida de Eva.

Em “Uma Família Feliz”, a influência de “Aos Teus Olhos” de 2017, roteirizado por Lucas Paraíso, é perceptível tanto visualmente – do cartaz do filme à construção narrativa – quanto em seu cerne emocional. O filme aborda de forma marcante a perigosa dinâmica do linchamento público e da destruição da vida de um indivíduo à medida que a comunidade se fecha em torno de suspeitas e juízos precipitados, sem se deter para compreender a verdade por trás dos acontecimentos.

Raphael Montes tece uma trama de suspense que mantém o espectador tenso e envolvido, revelando gradualmente os intricados segredos que permeiam a vida desta família aparentemente perfeita. O filme destaca-se pela sua capacidade de explorar as camadas mais profundas da psique humana e pela maneira como expõe a fragilidade das relações interpessoais quando submetidas à pressão do escrutínio público e à suspeita irracional.

O longa-metragem é um thriller psicológico denso e envolvente que ecoa não só os traços visuais e narrativos de “Aos Teus Olhos”, mas também a sua poderosa mensagem sobre os perigos do julgamento apressado e da destruição causada pelo linchamento público. Com uma narrativa habilmente construída e um elenco talentoso, o filme mergulha nas sombras da condição humana, revelando como os segredos guardados podem se tornar venenosos quando expostos à luz.

“Alguém tem que trabalhar de verdade enquanto a sua mãe brinca de boneca, filho.”

É preciso reforçar a invalidação e falta de reconhecimento do trabalho da mulher para além do escritório, quando se cuida da casa, do marido, de 3 crianças e ainda tem os seus projetos pessoais, de vida.

Como Raphael Montes diz: “Tenho medo do cidadão do mal, mas tenho mais medo do cidadão do bem.”

Você encontra Uma Família Feliz nos cinemas a partir de quinta-feira (4/4)

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Até o próximo texto.

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Maestro(s) – Uma Sinfonia de Conflitos e Superações

Maestro(s), dirigido por Bruno Chiche e roteirizado pelo mesmo em parceria de Yaël Langmann e Clément Peny, traz uma narrativa intensa que mergulha nas complexidades da relação entre Denis Dumar (interpretado por Yvan Attal) e seu pai, François Dumar (interpretado por Pierre Arditi). O filme, apresentado no Festival Varilux 2023, explora temas de prestígio, medo, e a busca pela excelência.

A trama se desenrola com a abertura impactante, destacando duas gerações de maestros – uma que sobe aos palcos e outra que relembra suas memórias. Denis, apesar de conquistar um prêmio prestigioso, se vê às voltas com a sombra imponente de seu pai, François, um maestro internacionalmente conhecido. A relação entre pai e filho é marcada por brigas, inveja e comparações, criando uma tensão palpável ao longo do filme.

A fotografia é notável, com planos dinâmicos que capturam a grandiosidade da orquestra e do espaço de apresentação. Os closes nos instrumentos, especialmente nos violinos e nas cordas, proporcionam uma trilha sonora marcante que acompanha a jornada emocional dos personagens.

A falta de diálogo na relação entre pai e filho adiciona camadas de complexidade à narrativa. A pergunta “Como faz para amar uma pessoa odiosa como eu?” destaca o conflito interno de François, enquanto, rígido e exigente, luta para entender o verdadeiro desejo do filho.

A trama se desenvolve através do dilema de Denis entre alcançar o auge da carreira e enfrentar seus medos, ou salvar o relacionamento com o pai. O filme aborda temas universais de autoaceitação, superação do medo e a busca pelos próprios sonhos.

A resolução triunfante destaca a mensagem central do filme – a criatividade e cooperação como resposta para os desafios. Maestro(s) é uma experiência cinematográfica que ressoa, lembrando-nos da importância de enfrentar nossos medos para alcançar nossos sonhos.

https://www.youtube.com/watch?v=hD8tk5-NcBU

 

Você encontra Maestro(s) na seleção oficial do Festival Varilux que acontece do dia 9 de Novembro ao dia 22 de Novembro de 2023.

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Até o próximo texto.

 

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Conduzindo Madeleine: Uma Jornada Poética Pelas Ruas da Vida

Conduzindo Madeleine,  dirigido e roteirizado por Christian Carion e apresentada no Festival Varilux 2023, é uma experiência cinematográfica que transcende as fronteiras da simples narrativa, levando os espectadores a uma jornada única pelas ruas de Paris e pelos recantos profundos da memória humana.

O filme, protagonizado por Line Renaud e  Dany Boon, tem uma abertura cativante e dinâmica, apresentando o cotidiano do motorista de táxi, Charles, interpretado por Dany Boon. Cada detalhe é inserido de maneira concisa, estabelecendo um ambiente de urgência e vulnerabilidade. Charles, à beira de perder pontos na carteira e enfrentando dificuldades financeiras, se vê em uma encruzilhada, buscando ajuda em seu relacionamento complicado com o irmão médico.

O encontro de Charles com Madeleine, uma idosa de 92 anos, muda o curso de suas vidas. O filme se desenrola principalmente dentro do táxi, mas mantém um ritmo dinâmico e envolvente. A habilidade de Christian Carion em criar uma atmosfera íntima dentro do veículo é notável.

A história se desenvolve à medida que Madeleine compartilha suas memórias, revelando uma vida marcada por desafios e superações. Os flashbacks, construídos com maestria e poesia, oferecem ao público uma visão profunda das experiências passadas de Madeleine, algumas dolorosas, outras reflexivas.

O filme é uma reflexão sobre o tempo, as mudanças na cidade, no amor e na vida em si. A trilha sonora desempenha um papel fundamental, complementando perfeitamente as emoções evocadas pelas histórias de Madeleine. A jornada de Charles, inicialmente impaciente e fechada, se transforma à medida que ele é cativado pelas narrativas da passageira, revelando um homem mais leve e aberto.

O roteiro habilmente aborda temas sensíveis, como violência doméstica, amor e perda, sem perder a ternura e a humanidade. A cinematografia conduz o espectador por diversos locais de Paris, como um convite a um city tour emocional.

Conduzindo Madeleine é mais do que um filme; é uma experiência cinematográfica que respira vida nas histórias entrelaçadas de dois personagens improváveis. Com uma reviravolta emocional surpreendente e uma conclusão que ecoa a efemeridade da existência, é um filme de tirar o fôlego.

Você encontra Conduzindo Madeleine na seleção oficial do Festival Varilux que acontece do dia 9 de Novembro ao dia 22 de Novembro de 2023.

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Tia Virgínia

Pode-se dizer que Tia Virgínia, dirigido e roteirizado por Fábio Meira, é uma obra cinematográfica que nos leva a uma viagem emocional profundamente pessoal e tocante. Com uma narrativa que se desenrola em um único dia durante uma celebração de Natal após a morte do pai, o filme mergulha nas complexidades da família, resgatando memórias e conflitos que muitos espectadores podem reconhecer em suas próprias vidas.

Uma das principais forças do filme é sua habilidade de criar uma conexão imediata entre o público e os personagens, especialmente com a protagonista Vera Holtz, que entrega uma atuação memorável. A proximidade com o mundo real é palpável, e os espectadores são levados a sentir que fazem parte da história. O filme explora temas familiares, incluindo memórias, conflitos de interesses e os desejos das irmãs, tudo isso em meio a celebrações que, ao longo dos anos, se tornam cada vez mais diferentes. Essa evolução e separação da família durante as festas natalinas são retratadas com sensibilidade, enquanto a dinâmica familiar em constante mudança é explorada.

A presença do som desempenha um papel fundamental na atmosfera do filme, com conversas e ruídos da casa que adicionam profundidade à experiência. A escolha da música, incluindo a voz de Milton Nascimento, também é um toque sensível que contribui para a sensação de familiaridade e conexão com a história.

Tia Virgínia toca em temas universais, como envelhecimento, cuidados com idosos e o impacto do passado na vida das pessoas. A jornada de cuidar de um ente querido idoso é representada de maneira sincera e reflexiva, questionando o que realmente significa estar bem e onde essa sensação de bem-estar pode ser encontrada.

A fotografia poética do filme revela a essência de cada personagem, seus segredos e interesses. Através dessa lente, somos levados a refletir sobre o controle da própria vida e a importância de cuidar de si mesmo.

Em resumo, o longa-metragem  é um drama familiar real e necessário, que oferece uma visão íntima das complexidades das relações familiares e da passagem do tempo. Com atuações cativantes e uma narrativa emocionalmente rica, o filme convida os espectadores a refletir sobre a vida, o envelhecimento e a importância de cuidar daqueles que amamos, mas antes de tudo, de si.

Tia Virgínia teve estreia no Festival de Cinema de Gramado, onde venceu diversos, incluindo o de melhor atriz para Vera Holtz, o de melhor roteiro para Fabio Meira e o Prêmio do Júri. O filme tem previsão de chegada aos cinemas no dia 9 de Novembro de 2023.

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Anatomia de uma Queda

Anatomia de uma Queda  é um filme francês que combina suspense e drama de maneira eficaz. A trama, que se desenrola em um chalé nos Alpes, nos coloca diante de um enigma perturbador: a morte misteriosa do pai da família. A estrutura narrativa do filme é habilmente construída, mantendo o espectador constantemente em suspense, sem revelar de imediato o que aconteceu naquele fatídico dia, trazendo uma sensação de saber o que houve e em outrora não saber mais.

A atuação de Sandra Huller é notável, pois ela desempenha o papel da mulher alemã que se encontra no centro da suspeita e da controvérsia. Sua interpretação traz à tona uma gama de emoções, do desespero à determinação, à medida que ela luta para provar sua inocência. A dinâmica entre os personagens e as relações familiares complexas são exploradas de maneira profunda e envolvente, pois aqui não sabemos ao certo se foi um homicídio ou um suicídio, mas sabemos que ambos trazem camadas de uma relação familiar matrimonial de anos.

A direção de Justine Triet é singular, especialmente considerando que o filme a tornou a terceira mulher a vencer a Palma de Ouro em Cannes (2023). Sua abordagem metalinguística e a utilização da música alta como um elemento que contribui para o desconforto e a tensão são aspectos marcantes e fortes do filme. Essa escolha sonora contribui significativamente para a atmosfera opressiva e para a sensação de tragédia.

O longo e inusitado julgamento que se desenrola no filme acrescenta uma camada adicional de sufocamento e complexidade à narrativa, enquanto examina a natureza da culpa e da inocência. A ambiguidade persistente sobre o que realmente aconteceu mantém o espectador envolvido e curioso até o final.

Anatomia de uma Queda é uma obra que desafia as expectativas e oferece uma experiência cinematográfica intrigante. Sua combinação de suspense, drama e metalinguagem o torna um filme que provoca reflexões e discussões após a sua exibição, destacando o talento de Justine Triet como diretora e a capacidade do cinema francês de contar histórias complexas e envolventes.

Você encontra Anatomia de uma Queda no Festival do Rio e Mostra de São Paulo. E nos principais cinemas a partir do dia 22 de Fevereiro de 2024.

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Estranha Forma de Vida

“ Há alguns anos você me perguntou o que dois homens poderiam fazer vivendo juntos em um rancho.
Eu te respondo agora.
Eles podem cuidar um do outro, proteger um ao outro, fazer companhia um ao outro.”

 

Os filmes de faroeste ao longo da história do cinema consolidaram uma visão tradicional da masculinidade. Eles frequentemente apresentam heróis fortes, corajosos e heterossexuais, refletindo uma noção estereotipada de virilidade. Essa representação restrita da masculinidade contribui para a heteronormatividade, criando um ambiente onde personagens gays ou bissexuais raramente encontram espaço para existir.

No entanto, a filmografia de Pedro Almodóvar, diretor espanhol conhecido por suas obras inovadoras e provocativas, desafia essas convenções de gênero e sexualidade. Almodóvar frequentemente cria personagens masculinos complexos que exploram uma ampla gama de experiências e orientações sexuais.

Essa abordagem diversificada de Almodóvar contrasta fortemente com a falta de representação de homens gays nos filmes de faroeste, destacando a importância de oferecer narrativas variadas e inclusivas no cinema. Almodóvar demonstra como a arte cinematográfica pode ser uma plataforma para explorar a diversidade da masculinidade e, ao fazê-lo, contribui para uma representação mais completa e autêntica.

Estranha forma de vida, dirigido por Pedro Almodóvar e produzido pelo seu irmão, Augustin debutou esse ano (2023) em Cannes e trouxe atenção para além da heteronormatividade western. Estrelado por Ethan Hawke e Pedro Pascal, o filme que teve seu figurino assinado por Anthony Vaccarello também contou com Saint Laurent como produtor associado.

Com duração de 31 minutos, incorpora o universo da moda ao ter figurinos que dizem que a grife não trabalha apenas com roupas finas como os ternos e camisas que vemos o xerife e o cowboy utilizarem, mas também fazem roupas casuais como jaquetas. Seria um catálogo da própria Saint Laurent ou seria um ato político cinéfilo que diz que o faroeste é para todos? Ou mais que isso; seria uma abertura de caminho para curtas e média metragens serem exibidos no circuito comercial além de em grandes festivais?

Você encontra Estranha Forma de Vida nos cinemas e a partir do dia 20 de Outubro, na Mubi.

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Campeonato dos Sonhos

Campeonato dos Sonhos desponta como grande comédia cinematográfica que, com habilidade, desvela as complexidades do ser humano diante de feridas emocionais e desafios pessoais. Lee Byeong-heon roteiriza e dirige o longa que chega ao catálogo da Netflix após domínio nas bilheterias sul-coreanas em 2023, desafia as convenções da comédia esportiva podendo atingir os fãs de k-drama.

O filme é estrelado por duas grandes figuras, Park Seo Joon e IU, cujas atuações trazem profundidade e magnetismo a cada personagem que interpretam. Todavia, não se deixe iludir pela roupagem cômica, pois esta narrativa ultrapassa a mera busca por risos, trazendo traumas e descrenças, ao tecer um cenário de aprendizado mútuo e superação coletiva.

Lee Byeong-heon urde uma trama empolgante e repleta de significados subjacentes. A história segue a trajetória de Yoon Hong Dae, interpretado por Park Seo Joon, um atleta que está por um fiasco, cuja salvação de carreira é treinar uma equipe de desafortunados, relegados à marginalidade social. Aqui, o futebol transcende sua superfície esportiva e, como metáfora da vida, torna-se a própria batalha pela existência, onde resistência e determinação são alicerces indispensáveis na jornada.

Debruçando-se sobre a ambivalência entre empenho e talento, a narrativa sutilmente revela que, em um mundo onde alguns são relegados ao ostracismo, o apoio solidário torna-se a bússola para a reconciliação consigo mesmo e com familiares deixados para trás. As vitórias não estão somente na esfera esportiva, mas na construção de memórias compartilhadas e no fortalecimento de laços.

A narrativa ganha contornos adicionais com a inserção de Lee Ji-eun como Lee So-min,  documentarista que, registra os árduos treinos e partidas, colocando-os em um filme único, o chamado “Campeonato dos Sonhos”. Mediante a jornada de criação deste documentário, culmina-se em uma experiência metafílmica que retrata suas etapas como montagem e voz em off na ilha de edição e captação de imagens e execução de roteiro de documentário ao longo dos treinos e jogos.

Campeonato dos Sonhos, além de promover risadas e reflexões profundas, insurge-se como uma poderosa ferramenta de visibilidade para os marginalizados e excluídos da sociedade, evidenciando sua humanidade e potencial, um verdadeiro soco no estômago da indiferença social. Com sutis referências à Premier League, o filme transcende os limites geográficos, entrelaçando-se com  reverência ao futebol europeu e seus ícones, provocando nos espectadores nostalgia.

Em sua essência, Campeonato dos Sonhos constitui um convite imperdível para os que desejam apreciar a sutileza da narrativa e o impacto de uma trama que se estende além das quatro linhas do campo, alçando-se a uma narrativa humana repleta de coragem e superação.

Você encontra Campeonato dos Sonhos na Netflix.

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