Bolero, O Mistério de Ravel , dirigido por Anne Fontaine, foi selecionado para a 15ª edição do Festival Varilux de Cinema Francês 2024. O filme exibe uma produção impecável, com um elenco adequado, figurinos e cenários de época meticulosamente recriados, e diálogos claros que elucidam a trama. No entanto, essa precisão e segurança podem ser vistas como uma abordagem excessivamente resumida e talvez asfixiante em termos de potencial narrativo.
“Nada é mais concreto do que a música.”
Bolero se passa em 1928, durante os vibrantes anos loucos de Paris, quando a dançarina Ida Rubinstein encomenda a Maurice Ravel uma composição para seu próximo balé. Enfrentando uma crise de inspiração, o filme nos leva a revisitar os capítulos da vida de Ravel, interpretado competentemente por Raphaël Personnaz, incluindo seus desafios precoces, as cicatrizes da Grande Guerra e um amor não correspondido por sua musa Misia Sert. Ravel, uma figura complexa e cartesiana, é retratado como um homem notavelmente sensível devotado à música – ao ponto de declarar que nunca se casou porque estava casado com a música.
“Acho que me perdi em minha própria música.”
Apesar da ambientação impecável e das boas intenções narrativas, o filme muitas vezes sucumbe a uma abordagem que não explora plenamente o potencial emocional e psicológico de seus personagens. Há vários filmes possíveis dentro deste, cada um mais provocativo que o outro, mas todos parecem asfixiados em suas possibilidades únicas por essa abordagem resumida. A repressão sexual de Ravel, por exemplo, é subutilizada; sua falta de impulso carnal é reduzida a gestos de afeto não correspondidos ou a incapacidade de expressar seus verdadeiros sentimentos. Essa explosão de possibilidade é tratada apenas como um pano de fundo, não alcançando o clímax emocional necessário.
O filme também deixa de explorar profundamente a percepção intelectual e emocional de Ravel em relação ao trabalho artístico da bailarina, evidenciando uma defasagem perceptiva entre ele e a dança meramente de um ponto de vista intelectual. Tais nuances estão presentes e disponíveis para o olhar atento, mas a direção de Fontaine, embora competente, não lhes dedica a atenção devida, preferindo manter uma narrativa segura e linear em um “safe zone”.
“A cada 15 minutos, alguém no mundo está tocando Bolero de Ravel.”
Bolero é um filme agradável, que sabe seduzir o espectador com sua mistura de leveza e beleza cativantes. No entanto, ele se revela uma obra sem grandes sustos narrativos, mas também sem grandes provocativas. Anne Fontaine, ao construir a biografia de Maurice Ravel, nos entrega um trabalho visualmente esplêndido, mas que parece se contentar em permanecer na superfície do drama do personagem, em vez de mergulhar nas profundezas de suas complexidades emocionais.
Distribuído no Brasil pela Mares Filmes e com classificação indicativa livre, o filme, apesar de suas sofisticadas pretensões e estudo meticuloso de época, poderia ter sido um estudo mais íntimo e penetrante de Ravel.
Você encontra Bolero no Festival Varilux 2024.
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